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BASQUETE - Editorial

O CABARÉ DAS ILUSÕES PERDIDAS

20/06/2011 15:41 h

         

Mensagem: marcel, troca de esporte ou aposenta...tá falando muito
besteira....
fala pro john stockton que ele nao é tao bom assim....nao ganhou nenhum
titulo
                                               Léo, via Databasket.com/fale conosco
 
 
 
 
 
 
 
Meu nome é Marcel Ramon Ponikwar de Souza.
 
Defendi a seleção brasileira por 20 anos e participei de 4 Olimpíadas (Moscou, Los Angeles, Seul e Barcelona).
 
Também participei de 5 Campeonatos Mundiais (Porto Rico, Filipinas, Colômbia, Espanha e Argentina).
 
Fui a 5 Pan-Americanos (Cidade do México, San Juan de Porto Rico, Caracas, Indianápolis e Havana).
 
Pela nossa seleção joguei 390 vezes e fiz 5.297 pontos.
 
Esses números me colocam (talvez para sempre) como o recordista de presenças na seleção e seu segundo cestinha.
 
Como recordação desses tempos tenho duas lembranças que mais me marcam:
 
A primeira, de cunho pessoal, é a cesta que fiz no Campeonato Mundial em 1978, que deu ao Brasil o terceiro lugar naquele campeonato (última medalha brasileira nessa competição), e que pode ser conferida clicando aqui: http://www.youtube.com/watch?v=bXz8BcRoodo
 
Já a segunda, da qual eu gosto mais porque foi a conquista de uma geração, é a vitória do Pan de 1987 em Indianápolis, onde vencemos os EUA por 120 a 115 e eu anotei 31 pts e 10 rebs. A minha versão desse feito (a última vitória de real importância do basquete masculino brasileiro) também pode ser vista no link: http://www.youtube.com/watch?v=fGuqUpHnYOk
 
Fora do basquete eu me formei em Medicina (jogando basquete) sem reprovação, nem DP. Também me especializei em Radiologia e Medicina da Família e da Comunidade e trabalho cerca de 84 horas (isso mesmo) por semana.
 
Se alguém pensa que foi fácil chegar até aqui, lamento lhes dizer que estão totalmente equivocados.
 
Para conseguir realizar os meus sonhos eu praticamente deixei a minha vida privada em segundo plano.
 
Para resumi-la num parágrafo, perdi minha adolescência e juventude treinando e estudando mais do que o meu físico pudesse suportar, negligenciei pessoas de quem eu era querido e paguei preços absurdos por isso.
 
Nesse processo de crescimento, que terminou aos 48 anos, eu me vi como um excelente atleta e profissional e um lixo como pessoa, o que me foi uma revelação valiosa, pois pude me avaliar e mudar para continuar a crescer (a gente nunca pára).
 
Da minha época selvagem tenho, no basquete, episódios que ainda me atormentam, os quais embora não me arrependa de ter passado por eles, os lamento muito e se pudesse mudar o passado, gostaria que fossem alterados.
 
Os aceito, porém, como parte de meu aprendizado nesse mundo porque foram fatos que me ensinaram (mesmo deixando um pedaço da minha alma ali) a ser uma pessoa melhor.
 
Eu também gostaria de poder falar dos episódios de minha tormenta pessoal, fora do basquete, mas isso envolveria pessoas que não merecem ser expostas aqui e, portanto me calo (mesmo consciente do que fiz e de que me fizeram).
 
Isto posto, posso lhes afirmar que tendo conhecido o céu e o inferno e passado por várias situações que poderiam me desviar da minha aventura pessoal de forma irreversível, uma verdade sempre se manteve inatacável dentro de mim: o meu amor pelo basquete brasileiro.
 
Esse amor é incondicional e pelo basquete brasileiro eu sempre procurei agir (da maneira que julgava apropriada) para torná-lo melhor.
 
Quando era jogador, muitas vezes deixei o lado pessoal para conquistar resultados coletivos que nos levassem a um degrau mais alto no cenário internacional.
 
Para isso tive que enfrentar várias situações de confronto as quais suplantei porque as pessoas sabiam que podiam contar comigo dentro e fora das quadras quando o bem comum e o melhor para a equipe estava em vias de se perder.
 
Os entreveros que travei com dirigentes, técnicos, companheiros de seleção, adversários, meus familiares e comigo mesmo foram históricos, mas o meu ponto de vista (“fazer sempre o que era melhor para o time”) todas as vezes prevaleceu e conseguimos inúmeros sucessos.
 
Quantas vezes urdi na calada para que uma situação fosse resolvida a contento da equipe. Memoráveis batalhas vencidas antes mesmo que as competições começassem, e quem conviveu comigo na época sabe do trabalho que tive para que o “fazer sempre o que é melhor para o time” fosse preservado.
 
Quando passei para o lado de lá não percebi que havia me tornado apenas mais um que “corneta”, que minhas opiniões não eram mais influentes, pois havia deixado de ser o Marcel jogador, que resolvia na quadra e/ou fora dela os problemas da equipe e passado a ser um “que enche o saco” com suas manias que ninguém entende.
 
Embora eu saiba (e os resultados dos últimos 17 anos me mostrem) a razão dos insucessos do basquete brasileiro, os quais apresentei a todos e sugeri soluções, é impossível ser levado em consideração quando o que mostramos (para alguns) é um problema que não existe.
 
Ou seja, a pergunta que me fazem é: “Mas que resultados, que insucessos?”
 
O e-mail que inicia esse editorial é uma mostra do mundo em que vivemos
 
Léo (e tantos outros) pode dizer o que desejar e sem demonstrar capacidades para isso, opinar sobre tudo e todos, construir meias verdades baseadas em factóides e se utilizar de parte ou todo dos fatos para a sua construção.
 
O mundo está desse jeito e temos que nos adaptar a ele, ou cairmos fora.
 
Entretanto, isso não é motivo para aceitarmos, como gansos de patê, os fatos e atos totalmente antagônicos a uma realidade do basquete, que existe mesmo se ainda não reconhecida por aqueles que extemporaneamente decidem o nosso futuro.
 
É claro, que não desisto e luto principalmente contra o que chamo de a mesmice do insucesso.
 
É preferível ser assim a aceitar e passar batido pela nossa realidade, hipotecando a mãos inábeis e despreparadas o nosso destino.
 
Em tempo: “Léo, o Stockton é campeão olímpico com a seleção do país dele”.

Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração

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