ESPELHO
A gente tende a reconhecer nos outros o que temos dentro de nós, o que somos, o que pensamos e sentimos.
Quando uma pessoa, por nós querida, dá uma mancada e ficamos chateados com ela é porque o que esta fala e faz nos atinge de uma maneira mais intensa do que a mesma situação, feita por alguém não nos é caro.
Arrogância, medo, inveja, raiva e também bons sentimentos como compaixão e amizade são mais fáceis de serem sentidos por nossos amigos e pelos nossos amigos do que por e pelos nossos colegas de trabalho, conhecidos enfim por alguém com o qual não tenhamos algum laço emocional mais profundo.
Então, não fiquem bravinhos quando alguém lhe dá uma cacetada, como também não se remoa mais que o óbvio quando você é duro com os outros.
Isso nos ajuda muito.
Estamos nos comparando o tempo todo. O basquete tem muito disso.
DO LADO ESQUERDO DO PEITO
Antonio Bordin Filho, o nosso querido Inho, foi meu companheiro de equipe nos áureos tempos do Jundiaí Clube, anos 70.
Hoje, engenheiro quase aposentado, eu o encontro no Clube Jundiaiense fazendo musculação e aeróbica.
Inho mantém o mesmo físico de antanho, o que põe por terra esse negócio de que a gente vai engordando com a idade.
Pois bem, de vez em quando ele me presenteia com alguns recortes de jornais (a Internet da época) que descreve algum feito “histórico” do basquete de Jundiaí, que por tradição sempre foi formador e tem mais atletas olímpicos do que muita gente possa supor.
Desta vez, meu querido amigo me presenteia com três “pedaços” do Jornal de Jundiaí, tradicionalíssimo aqui.
O primeiro (15 de setembro de 1972), chama-me a atenção pela coluna “NO MUNDO DA CESTA”, talvez escrita pelo saudoso jornalista Nelci Cassiano da Silva, onde são destacados vários clubes e indústrias, que na época tinham equipes de basquete tanto no masculino como no feminino.
Divino Salvador, Jundiaí Clube, Esportiva, Ipiranga e (pasmem) o basquete nas indústrias eram citados.
Nesse dia, também podemos encontrar as fotos da inauguração do ginásio de esportes da Associação Esportiva Jundiaiense, que teve o jogo entre a mesma e o Palmeiras de Gherman, Gonzáles e Carioquinha (72 a 58 prá eles). Eu estava lá.
O segundo pedaço, de 18 de outubro de 1973 (dia do médico), fala da minha primeira convocação para a seleção brasileira, aos 16 anos.
O treino foi no DEFE, em São Paulo e eu tenho a foto com o Maury e o meu técnico Brás assistindo a este na arquibancada.
O útlimo pedaço de jornal, datado em 4 de novembro de 1973, conta do meu primeiro jogo com a seleção brasileira, que aconteceu aqui em Jundiaí, contra o meu time (Jundiaí Clube).
A seleção ganhou de 94 a 39 (claramente eu não joguei por Jundiaí) e eu fui o cestinha com 18 pontos (joguei só no segundo tempo).
Agradeço ao Inho pelas lembranças que esses recortes de jornais me causaram.
PRINCÍPIO DE PARETO
Eu não vou lhes explicar aqui o que é isso (google it, please), mas vou utilizá-lo para falar de Lebron James.
Como vocês já sabem, eu pesco um jogo aqui, um jogo ali, todo dia na NBA e nessa segunda-feira assisti ao segundo quarto de Washington x Miami.
Muito bem, gostei muito do Washington (Beal, Wall e Gortat), mas o que me chamou a atenção na vitória do Miami mais uma vez a atuação de LBJ.
No TAC da semana passada eu lhes havia falado sobre a intensidade (ou falta dela), com a qual o futuro MVP da temporada afronta seus compromissos cotidianos (sim, os caras jogam de 3 a 4 vezes por semana).
Lebron nesse jogo obteve 23 pts, 7 rebs e 8 asts, ou seja, um score digno de Scott Pippen no velho Bulls.
Claro que não jogou mal, só que LBJ pode (tem que) fazer muito mais que Pip.
Falta-lhe algo, que a gente estava acostumada a ver nos grandes da NBA.
Parece que o nosso melhor jogador de basquete contemporâneo está se resguardando para os playoffs, mas por mais que ele seja LBJ, não dá pra jogar quando ele quiser.
Não dá pra ser apenas Pippen (meu modelo de jogador, por sinal).
Ele tem que exercer sua superioridade em todos os jogos, a todo instante.
Os grandes nomes do passado, em todos os níveis do jogo, estavam sempre a 100% e quando chegava o momento de decisão davam 110%.
Eu ouvi isso de Magic Johnson num restaurante em Copacabana depois dos jogos entre Oscar x Magic, vi e ouvi isso de Larry Bird numa fita de videocassete de Bird e Auerbach e assisti a isso em todos os jogos de MJ.
LBJ joga 80% do tempo a 20% de sua capacidade e depois quer jogar o que sabe (e pode) apenas quando for necessário..
Vamos combinar: não rola.
Isso ainda vai prejudicar o legado de LBJ na história do jogo.
TIME OUT
Como sempre, informo que esse tópico é dedicado aos treinadores neófitos, que se iniciam na dura arte de ensinar o jogo.
Descansar é fundamental no jogo de basquete, não só para a regeneração e preparação do organismo para um novo esforço, como também para ligar neurônios.
E é disso que quero lhes falar. O jogador de basquete (em qualquer nível e idade) tem que ligar neurônios em seu cérebro para que possa atuar dentro do jogo com o máximo de eficiência e eficácia.
Muito se fala em “ler o jogo”, interpretá-lo de maneira apropriada, saber os sistemas de ataque e defesa, além da carga emocional a que o jogador está submetido.
Tudo isso dá trabalho ao cérebro e ele precisa de um tempinho para fazer as conexões (ligar neurônios) necessárias para colocar tudo pronto para uso quando a situação do jogo exigir.
Pensar é trabalhoso, gasta energia e toma um tempo precioso na tomada de decisão e por isso, na minha concepção atual, não podemos fazê-lo durante o jogo.
“Pronto! Lá vem ele com história”. Quer dizer que pensar está fora do jogo?
Sim! Mil vezes sim!
Hoje é tudo no automático e não se pode perder tempo e/ou energia para saber o que (quando, como) fazer dentro de um jogo.
O atleta tem que ter todas as situações prontas para uso (ligadas) dentro de seu cérebro, para que as utilize como dirigimos um automóvel ou andamos de bicicleta (alguém aí pensa para fazer essas coisas?).
Isso requer ligações extras de neurônios e portanto torna-se necessário dar um tempo (descanso) para que estas ocorram.
Minha sugestão é ensinar todas as situações de um sistema de jogo em períodos fracionados de 15 minutos cada um.
Muitas vezes os jogadores não conseguem fazer o que foi pedido naquele treino, mas quando voltam no outro dia já estão com tudo no automático, pois tiveram tempo para ligarem alguns milhares de neurônios.
Portanto, se alguma coisa não deu certo num determinado momento do treino, não insista mais do que 15 minutos.
Faça outro exercício (um treino de fundamentos, por ex,) e retorne a ela numa outra oportunidade.
Obrigado e até o próximo TAC.